Por entre os penedos de Montemuro
Há cinco anos que não fazia esta viagem rumo a três aldeias escondidas na serra de Montemuro, e há cinco anos que a minha avó materna tanto queria que eu a fizesse. As saudades já eram muitas mas ia sempre ficando para o próximo ano. Ora este foi o ano. Imagino a minha avó aos pulinhos de contentamento quando lhe disse ao telefone que era desta que ia passar lá na terra. Pronto, pulinhos mentais. Mas não é pela idade, que ninguém lhe acredita os 88 anos que tem, é só porque não é uma pessoa muito dada a pulinhos.
Mas então onde é que eu fui, afinal? Distrito de Viseu, Concelho de Cinfães, três aldeias: Alhões, Meridãos e Fermentãos. Tudo coisas ali ao virar da esquina, pouco mais que uns 320km de distância da minha alegre casinha. Mas o pior, ainda assim, não é quantidade de kms que tem que se percorrer, mas sim as estradas para lá chegar. Isto era uma viagem muito bonita de se fazer se fosse sempre em autoestrada, mas o problema é que ainda inclui bastante tempo em IP e estradas nacionais. Parece uma eternidade o caminho, dá a sensação de que se está a ir para o meio do nada quando já estamos quase a chegar, mas a coisa faz-se... e passado umas 4 horas e tal se calhar até já chegámos.
Com muita pena minha este não pode ser mais um post da rubrica Concelhos & Conselhos porque não fui à descoberta do concelho de Cinfães (mas hei-de ir, meus amigos, hei-de ir, que Cinfães tem muita coisa bonita para se ver). Foi uma viagem longa mas uma estadia curta. Um dia para descansar da viagem, um dia para visitar a minha avó materna, um dia para visitar a família paterna e, pimbas, toca a regressar a casa. Pelo meio de outros compromissos só deu mesmo para lá passar estes dias e por isso só deu para ir mostrar os gémeos (sim, que eu tenho bons motivos para ter estado tanto tempo ausente daqui) à família. Vá, e assim muito rapidamente, por breves instantes, deu para suspirar de nostalgia ao rever locais e pessoas. São tantas as memórias, que ainda começo para aqui a chorar e tenho que transformar isto num livro que num post não cabe.
Ora fomos então a Alhões, terra da minha avó materna. Depois de passar uma ou duas semanas de férias com os meus pais em uma das outras aldeias que vou falar, vinha para aqui e se não estou em erro ainda por aqui ficava pelo menos um mês. Era viagem sagrada, acontecia todos os anos e por isso não só tinha muitos amigos da minha idade como conhecia quase toda a população da aldeia. Aquilo que para os meus amigos era uma obrigação cansativa e sem piada da sua vida rural, era para mim divertimento. E por isso era raro encontrar a Cláudia dentro de casa. Era mais fácil encontrá-la no monte a pastar o gado, nos lameiros a tomar conta das vacas, nas hortas a cavar batatas, dentro dos palheiros a guardar a erva seca, e tudo o mais que eles tinham que fazer ao ajudar os pais e que eu estava sempre disposta a ir também. Vá, agora que já se passaram muitos anos também posso acrescentar à lista coisas como ir aos canastros das pessoas tirar milho e divertir-me a distribui-lo pelas galinhas que encontrava à solta na aldeia. E quando o pão de milho quentinho acabava de sair dos fornos a lenha? Era bem melhor do que quando era atacada por galos. Memórias, muitas memórias. Infelizmente não pude rever os meus amigos de infância, dado que na sua maioria se encontram a trabalhar em países estrangeiros.
Fomos então depois a Fermentãos, local onde mora a minha madrinha, uma das irmãs do meu pai. Mesmo ao lado estava uma outra tia de férias e foi assim uma grande reunião familiar com tios e primos à mistura. Não todos, porque ainda assim a maioria já vive em Lisboa. Foi aqui que desisti de fazer dieta enquanto estivesse de férias porque quando dei conta já o meu tio tinha posto uma mesa com vinho, pão, queijo e presunto lá da terra. Presunto lá da terra, para mim bastava isso. Vá, o pãozinho também dá jeito, para acompanhar e tal. Há muitos anos que não comia um presunto assim e por isso tive que me vingar.
Para terminar a procissão dos gémeos, fomos a Meridãos, terra do meu avô paterno. Aqui sim,era onde eu passava férias durante uma ou duas semanas com os meus pais, antes de ir passar um mês a Alhões com a minha avó. Foi uma visita curta dado que só lá estava o meu avô, mas foi muito importante e bonito ter-lhe apresentado os novos bisnetos.
Nenhuma das aldeias está exatamente como antes, todas mudaram. Já não se veem galinhas por todo o lado à solta, pessoas a sair para o monte com vacas, cabras e ovelhas, homens e mulheres a passar com enxadas e forquilhas na mão. Já não são as aldeias que eram, mas continuam a ser as aldeias do meu coração.